Creio que de um certo modo, como o Pr. Téo argumentou, Deus é humilde pois Ele se fez homem, desceu ao nível dos humanos, mas sem pecado. Um inimigo do cristianismo chamado Celso, neoplatonista, apresenta um argumento interessante que sintetiza o pensamento dominante da cultura da época dos primeiros cristãos. Ele diz que: “Eu não faço nenhuma afirmação nova, mas digo o que já está definido a muito tempo. Deus é bom, belo, abençoado, e isso no melhor e mais belo patamar. Mas, se ele desceu entre os homens, ele deve ter sofrido alguma mudança” (Orígenes contra Celso). Embora a conclusão de Celso não seja verdadeira, creio que podemos tirar algo de verdadeiro do que ele disse. Para Celso era inconcebível um Deus bom, perfeito e justo se fazer homem, pensamento este coerente com sua filosofia neoplatonista. Este Deus estaria se rebaixando, tanto que Celso crê que se isso acontecesse Deus certamente perderia parte de sua essência perfeita. Sob este aspecto creio que há humildade da parte de Deus em se relacionar com suas criaturas a tal ponto que foi capaz de enviar seu único filho para reestabelecer as relações entre o criador e a criatura. Por outro lado, quando Deus reivindica a glória e todas as coisas para si Ele não está sendo orgulhoso, vaidoso ou arrogante. Não, pois o orgulho e a vaidade são defeitos dos seres humanos que geralmente pensam de si muito mais do que realmente são. Seguindo essa linha de raciocínio Deus jamais será orgulhoso ou vaidoso. Tudo o que Ele requer para si, tudo o que Ele fala de si é verdadeiro e justo. Se Ele diz que é misericordioso, realmente Ele é misericordioso. Se Ele diz que todos os povos devem se prostrar diante de sua presença, isso não pode ser considerado como soberba. Ele é realmente digno de todo louvor e glória. Não há nenhuma inverdade nisso. Quanto a adoração, certamente Deus não precisava de alguém que o adorasse. Ele estava completo Nele mesmo. Um Deus único se relacionando em três pessoas. Mas aí creio que entre o grande amor de Deus. Embora Ele não necessitasse de mais ninguém, desejou formar criaturas. Estas criaturas puderam provar de seu grande amor e admirar sua glória manifesta de várias formas na criação. Nesse contexto, nada mais natural seria adorar a um Deus tão grande. Mais uma vez... Ele não necessitava e nem necessita da nossa adoração, Ele merece a nossa adoração a tal ponto que isso se impõe de uma certa maneira como um dever às suas criaturas. Aqueles que tem filhos sabem muito bem o que digo. Quando são ainda pequenos lhes ensinamos que devem agradecer as pessoas que lhe presenteiam com qualquer coisa. Obrigado é o mínimo que esperamos, não é verdade? Ou se alguém nos salvasse da morte, não seríamos imensamente gratos a essa pessoa? Sim, é claro que seríamos. Olhe agora para Deus. Tudo o que está ao nosso redor, o que vemos e o que não podemos ver, o que sentimos e o que não podemos sentir... tudo... absolutamente tudo é criação dele. Quando olhamos para nossas mãos, nossos pés, o alimento que comemos, a bebida que bebemos, nossos filhos, nossas esposas, nossos pais, nossos amigos, colegas, parentes... tudo, tudo veio Dele e existem para a sua glória. E a sua glória é tão majestosa que se transforma em bênçãos para as suas criaturas. Como não adorar a este Deus?